Total de visualizações de página

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Nada de novo sob o sol 12

Enquanto arrancava algumas  folhas secas, Bastião  conversava com o arbusto-borboleta como quem conversa com um velho amigo. No momento, comentava como as pessoas não tinham mais paciência de ouvir os outros. E ia começar a dar um exemplo quando foi interrompido pela chegada de frei Alfons ao portão. Pela vermelhidão na bochecha do pároco, era melhor não conversar com ele. Apesar da pouca instrução, Bastião sabia exatamente reconhecer os humores do patrão, e manter-se à distância era o mais saudável no momento.  
Depois de terminar o jardim, ele foi fazer um reparo no banheiro da igreja, e passou lá o restante do dia. Já se preparava para ir embora, e estava dando uma “última prosinha com Deus”, como dizia,  quando ouviu a voz do frei ao seu lado no banco:
_ Já está indo?
_Sim, senhor, frei. O senhor quer mais alguma coisa?
_Quero sim. Quero conversar com você.

Bastião caminhava para casa sem prestar atenção ao caminho. Tinha tomado uma decisão. Iria ter coragem, uma vez na vida, de decidir algo sozinho. Mesmo que Bastiana não quisesse. Ia ser “homem”. E pronto! Imaginou-se chamando-a  para conversar; podia vê-la dizendo que ele era louco, não tinha juízo, não estava ” bom das ideias”... sentiu  cansaço só de imaginar o que estava por enfrentar. Bastiana tinha paciência de ouvir as reclamações das vizinhas, e até dava conselhos. Mas bastava Bastião abrir a boca para ela lhe dizer  que ele não era lá um homem de decisões acertadas. E Bastião sempre cedia. No fundo, achava que ela tinha razão. Dessa vez, no entanto, sabia que aquilo era o melhor a fazer.
Ao cruzar a porta de casa, recebeu um abraço da filha, que era louca por ele. Olhou para Bastiana, que estava logo atrás,  e disse:
_Maria do Carmo ganhou uma irmãzinha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário