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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Chet Baker



Chesney Henry  Baker Jr. – Chest Baker –  foi um trompetista de jazz e cantor norte-americano, nascido em Oklahoma em 23/12/1929.
Criado até os dez anos numa fazenda, parte para Los Angeles no final dos anos 30, quando começa a estudar teoria musical. Chet Baker sempre foi influenciado por seu pai, guitarrista, de quem herdou a paixão pela música e de quem ganhou, aos 10 anos de idade, um trombone. Amante do Jazz, não tardou em conquistar o sucesso, sendo apontado como um dos melhores trompetistas do gênero logo em seu primeiro disco. Sua linda trajetória musical, no entanto, via-se constantemente ameaçada por um  vício que permeou toda sua vida – a heroína.
Baker morreria em Amsterdã, de forma trágica e misteriosa, na madrugada de 13 de Maio de 1988, quando despencou da janela do hotel. Até hoje existem muitas controvérsias sobre a causa de sua morte: suicídio ou acidente?
Chet foi enterrado no "Inglewood Park Cemetery", em Los Angeles.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Nada de novo sob o sol 15

Carmo acordou alegre aquele dia: iriam receber a visita da tia Terezinha, do tio Manoel e dos primos. Desde que Nena viera morar com eles, todos estavam loucos para  conhecê-la, mas o dinheiro era pouco, e o  trabalho, muito.  Como Carmo gostaria de saber escrever para contar para Lúcia tudo o que ia em seu coração! Sabia de pessoas que se falavam por cartas, e achava isso incrível!  Mas, como era menina, os pais não viam motivo algum para mandá-la à escola. Realmente, só conhecia duas meninas que sabiam ler e escrever:  a Paulina e a Rosa. As duas tinham aprendido porque tinham  irmãos, e eles as ensinaram de tanto que elas insistiram. Queriam tanto aprender que conseguiram rapidinho. Paulina uma vez contou que estava lendo escondido um livro do irmão... se os pais soubessem, ela estaria perdida.
Absorta nesses pensamentos, Carmo ia penteando os cabelos e olhando-se no espelho. No último ano, seu corpo tinha mudado muito: as coxas engrossaram, a cintura afinou, e os seios começavam a aparecer. Como morria de vergonha que percebessem, andava com os braços cruzados quase o tempo todo. Suas vizinhas ainda tinham corpo de criança, e Carmo as invejava por não terem que se esconder das pessoas. Uma vez, tentara falar com a mãe a respeito, mas Bastiana apenas disse: “ Isso não é assunto pra criança”. Carmo quase morreu de vergonha e, com o rosto queimando, jurou nunca mais falar sobre isso com a mãe. Mas com Lúcia falaria; embora ela fosse sua “filhinha”, tinha quase sua idade e, quem sabe, já estivesse passando por isso também.
Carmo chegou na cozinha na hora exata em que Bastiana passava um sermão em Bastião; estava quase na hora da visita chegar, e ele estava metido em seu serviço de pedreiro. Há um mês, havia tido a ideia de construir um quartinho do lado de fora da casa, ao lado do banheiro, para poder alugar e ganhar um dinheiro. Frei Alfons estava ajudando com o material. Todo dia,  ao chegar do trabalho, ele vestia sua roupa mais surrada e lá ia fazer cimento e assentar tijolos.  Bastião entrou todo sujo pela cozinha, e levou mais uma bronca, bem merecida, por sinal. Carmo e a mãe tinham passado o dia anterior inteiro deixando a casa limpa e acolhedora para a visita. Tinham até colhido algumas azaleias do jardim de Bastião e colocado dentro de um vidro de leite vazio para enfeitar a sala. Pena que não houvesse lugar para todos se sentarem. Mas isso não era problema: os adultos ficariam nos bancos, as crianças ficariam no chão.
Mal Bastião saía de seu banho fajuto, os parentes bateram palmas no portão. Carmo saiu correndo, Bastiana foi atrás com Nena nos braços. Enquanto Zinha carregava Nena e falava daquele jeito engraçado que falamos com bebês, tio Manoel apertava as bochechas de Carmo, dizendo: “Bastianinha, como você cresceu!”  Os meninos e Lúcia estavam muito envergonhados – era a primeira vez que saíam de casa para uma visita em outra cidade. Os corações estavam aos pulos. Enquanto Paulo e Lúcia pareciam assustados, Manoelzinho falava sem parar, contando  como havia sido emocionante a viagem de ônibus. Então Bastiana disse:
- Vamos entrar. Ou vamos ficar conversando  no portão, feito comadres?

domingo, 12 de junho de 2011

Nada de novo sob o sol 14

Nena crescia gordinha e feliz, e a vida seguia como tinha que seguir. O aniversário de um aninho se aproximava, e Bastiana quis fazer uma festinha, convidando o frei, o casal que havia ajudado com o leite e o pai de Nena. Carmo, embora estivesse feliz, não conseguia entender por que nunca ganhara uma festinha. Mas sabia que esse era um sentimento feio, e procurou enterrá-lo no fundo do coração. Tratou de ajudar a mãe a bater o bolo e rechear os pãezinhos.
O pai de Nena era um homem muito fechado. Quando soube que a filhinha tinha saúde e estava bem cuidada, foi conhecê-la. Ela já tinha 7 meses. Então, começou com uma conversa de cerca-lourenço, dando a entender que poderia ficar com a filha. Bastião e Bastiana ficaram indignados – como alguém pode tratar um filho assim? Ninguém iria tirar Nena deles, não agora que já a amavam tanto. Então, Bastiana prometeu que ele poderia visitá-la quando quisesse, o que não aconteceu mais  até o aniversário. 
No dia da festa, Carmo segurava Nena no colo quando o pai chegou. O clima ficou pesado, porque aquele homem trazia medo e insegurança  àquela família. Frei Alfons, embora não gostasse dele, quebrou o gelo inicial.
_Ora, ora, se não é nosso amigo Augusto.
_Boa tarde,  frei. Sua bênção.
_Deus te abençoe, meu filho. Não tem comida nesta casa?
Então, todos se sentaram e começaram a conversar. O casal do leite era o que mais falava, principalmente a mulher – apertou as bochechas de Nena, mexeu nos cabelos de suas irmãs, elogiou o bolo, perguntou da irmã de Bastiana; assunto não lhe faltava. Então, quando houve uma brecha na conversa, Augusto anunciou que estava se mudando para o Rio de Janeiro. A respiração dos anfitriões ficou suspensa por um tempo. Estaria ele querendo levar Nena consigo? Ninguém tinha coragem de perguntar. Carmem e Clarinda brincavam com ela agora, e pareciam felizes. Teria ele coragem de fazer isso? Bastião percebeu as bochechas coradas do frei, e percebeu que ele não permitiria que isso acontecesse.  O suspense durou até a hora em que Augusto levantou-se e, chamando as filhas, despediu-se cerimoniosamente de todos.
Carmo respirou aliviada mas, sem esperar, sentiu uma saudade apertada do avô que falecera há 4 meses. Duas lágrimas frias rolaram de seus olhos.

Nada de novo sob o sol 13

Helena já estava com 2 meses, e crescia saudável. De bebê franzino e frágil, transformara-se numa fofura cheia de gominhos. Tinha a pele clara, cabelos escuros e um furo no queixo igualzinho ao de Angelina. Carmo colocava o dedo no furinho e dizia: você nasceu com defeito de fabricação! – e caía na gargalhada. Embora sentisse um grande carinho pela irmãzinha, tinha ciúme da maneira como a mãe a tratava. Bastiana, que sempre fora dura com Carmo, agora era toda carinhos com Nena – apelido dado pela irmã. Não dava nem para acreditar que a mãe mudara tanto de ideia; quando o pai chegara com a notícia, a mãe havia feito um escândalo e dito que Bastião só podia estar louco. Viviam com tão pouco que Bastiana dava graças a Deus por não ter podido mais ter filhos. Até o dia em que o frei a chamou à igreja e lá, perante o altar, teve uma séria conversa com ela, dizendo que nada faltaria à menina, e apelando para seu dever cristão. Bastiana, totalmente a contragosto, e mais por medo de ir ao inferno do que por qualquer dever cristão, acabou cedendo ao apelo do padre.  As pessoas da paróquia ajudaram no que puderam: um vizinho fornecia o leite, outros fizeram o enxovalzinho, e assim Helena foi acolhida. Com o passar dos dias, Bastiana foi se apegando àquela criaturinha, assim como Bastião e Carmo, como se ela fosse deles. O trabalho aumentou bastante, porque não é fácil cuidar de um bebê, mas Carmo ajudava a mãe como gente grande. A vida ganhou um novo colorido.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Nada de novo sob o sol 12

Enquanto arrancava algumas  folhas secas, Bastião  conversava com o arbusto-borboleta como quem conversa com um velho amigo. No momento, comentava como as pessoas não tinham mais paciência de ouvir os outros. E ia começar a dar um exemplo quando foi interrompido pela chegada de frei Alfons ao portão. Pela vermelhidão na bochecha do pároco, era melhor não conversar com ele. Apesar da pouca instrução, Bastião sabia exatamente reconhecer os humores do patrão, e manter-se à distância era o mais saudável no momento.  
Depois de terminar o jardim, ele foi fazer um reparo no banheiro da igreja, e passou lá o restante do dia. Já se preparava para ir embora, e estava dando uma “última prosinha com Deus”, como dizia,  quando ouviu a voz do frei ao seu lado no banco:
_ Já está indo?
_Sim, senhor, frei. O senhor quer mais alguma coisa?
_Quero sim. Quero conversar com você.

Bastião caminhava para casa sem prestar atenção ao caminho. Tinha tomado uma decisão. Iria ter coragem, uma vez na vida, de decidir algo sozinho. Mesmo que Bastiana não quisesse. Ia ser “homem”. E pronto! Imaginou-se chamando-a  para conversar; podia vê-la dizendo que ele era louco, não tinha juízo, não estava ” bom das ideias”... sentiu  cansaço só de imaginar o que estava por enfrentar. Bastiana tinha paciência de ouvir as reclamações das vizinhas, e até dava conselhos. Mas bastava Bastião abrir a boca para ela lhe dizer  que ele não era lá um homem de decisões acertadas. E Bastião sempre cedia. No fundo, achava que ela tinha razão. Dessa vez, no entanto, sabia que aquilo era o melhor a fazer.
Ao cruzar a porta de casa, recebeu um abraço da filha, que era louca por ele. Olhou para Bastiana, que estava logo atrás,  e disse:
_Maria do Carmo ganhou uma irmãzinha.