Bastiana gritava para Nena parar de correr; a menina estava sapeca, falando tudo e deixando os pais cada dia mais encantados. Ela estava mais e mais graciosa, pronunciando as palavras cheias de erros, sempre agitada e feliz. Acabava de cruzar o portão da casa, deixando a mãe alguns passos atrás.
-Nena, você vai apanhar. Não falei pra não soltar da minha mão?
-Não.
-Falei, sim senhora! Não faça mais isso!
Bastiana segurou um risinho; aquela menina era levada demais! Lembrou-se do quanto havia resistido à ideia de adotá-la dois anos atrás, e agora – que Deus a perdoasse - sentia mais amor pela caçula do que pela sua filha de sangue. Coisa de afinidade, mesmo. Fazer o quê?
-Passou toda a roupa?
-Oi, mãe, ainda não terminei.
-Você está parecendo uma tartaruga, igualzinha à da dona Terezinha.
-Credo, mãe, eu já vou terminar. Posso dar uma bala pra Nena?
-Bala? Que bala?
-O Miguel trouxe bala. Posso dar pra ela?
-Claro que não. Ela é muito pequena pra isso. Ele veio aqui?
-Veio, e trouxe bala. Ele é bonzinho.
-Não quero que você fique pegando bala de ninguém. Entendeu? Entendeu, Carmo?
-Sim, senhora.
Enquanto fazia careta por trás da mãe, Carmo pensava que não existia no mundo mãe mais chata que a dela.