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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Nada de novo sob o sol 18

Não demorou muito para que Miguel – esse era o nome do inquilino – arrumasse um emprego. Como não tinha qualificação, aceitou trabalhar como pintor de paredes, e serviço não faltava. Trabalhava até às 16h, e depois ia para seu quartinho, onde também fazia as refeições. As poucas vezes que encontrava os donos da casa era quando ia usar o banheiro e algum deles estava pelo quintal. Parecia um moço pacato, embora Bastiana o tivesse flagrado algumas vezes com forte cheiro de álcool. No entanto, pagava o aluguel em dia, e isso era o que importava. Desde que ele fora para lá, estava dando para viver de uma maneira menos apertada.
Bastiana continuava lavando roupa para fora, e quase todas as tardes saía, às vezes para pegar as roupas, outras vezes para entregá-las. Quase sempre Carmo ia junto, assim ajudava a mãe e ainda podia passear um pouquinho. Um dia, enquanto Bastiana estava no tanque, acompanhada de Nena que  brincava na terra, ouviu um choro, que percebeu ser da filha. Correu para dentro e encontrou a menina em pé, as mãos sujas de sangue, chorando sem parar. Bastiana percebeu imediatamente o que acontecera.
-Por que esse escândalo?
-Eu tô sangrando, mãe. Juro que não fiz nada. Tá doendo muito minha barriga!
-Isso é normal, Carmo. Toda mulher tem.
-Como assim?
-Você virou mulher. Agora todo mês vai sangrar. Vou pegar um paninho pra você enquanto toma banho.
-Mas eu vou ficar assim pra sempre?
-Daqui uns 4 dias pára, Carmo. Não precisa fazer drama. Agora vá tomar banho.
Enquanto Carmo tomava banho, a mãe pegava a roupa suja e a lavava no quintal. Enquanto isso, dois olhos espiavam pela porta do quartinho, sem serem notados.

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