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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Nada de novo sob o sol 11


A roda dos enjeitados – ou roda dos expostos – surgiu no século XIII, em Roma. Toda vez que os pescadores jogavam a rede no rio Tibre, traziam não só peixes, mas também muitos corpos de bebês, que eram jogados por suas mães  assim que nasciam. Preocupado com essa situação, o Papa Inocêncio III incumbiu o frei Guy de Montpellier de criar um serviço em que essas crianças tivessem uma chance à vida.  Assim, frei Guy mandou abrir numa parede do Hospital do Espírito Santo  um buraco, e nele instalou uma caixa cilíndrica, em que a mãe podia depositar seu bebê sem ser identificada.  A roda dos enjeitados foi copiada pelo mundo, e foi por meio dela que  muitas crianças foram salvas.

 Frei Alfons era uma dessas crianças. Rejeitado pela mãe, que nunca soube quem era, e nem por que o abandonara, fora deixado na roda dos expostos de um convento da pequena cidade de  Bedburg.  Viveu naquele lugar até os 5 anos, quando então foi adotado por um casal sem filhos. A mãe adotiva, de saúde frágil, acabou morrendo 2 anos depois, deixando os dois homens sozinhos. O pai nunca mais quis casar-se, tendo Alfons como sua única companhia, até o dia em que o filho deixou a casa para entrar no seminário.  O pai, homem de princípios rígidos e durão, chorou naquele dia como uma criança. Sabia que, a partir dali, o filho seria da igreja, e não mais seu. Desde então só haviam se visto na ordenação e em mais três ocasiões, até que Alfons foi enviado ao Brasil. Um ano e meio depois, o pai falecia.
A história toda veio à tona no momento em que o frei colocou os olhos naquele berço. A solidão que um dia sentira na própria pele, ele podia adivinhar naquela criaturinha, totalmente indefesa e solitária. O medo, a angústia, a sensação de não pertencer ao mundo, tudo subiu-lhe novamente à garganta, e explodiu num choro silencioso. Rezou a oração de Santa Gertrudes e saiu caminhando em direção à casa do marido de Angelina.

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