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terça-feira, 24 de maio de 2011

Nada de novo sob o sol 8

_Deus esteja com você, Angelina.
_ Amém! Frei, eu quero ver minha meninas! _ O rosto contorcia-se num choro seco de lágrimas.
_Filha, você sabe que isso não é possível. Você quer que suas filhas fiquem doentes? Com certeza, não.
_Eu não aguento mais, não aguento mais..._ a voz ia sumindo.
Frei Alfons olhava aquela mulher, tão linda quando ia à missa, carregando as filhas cheias de babados e fitas,  transformada num ser repugnante. Era mesmo difícil olhar para seu rosto. O corpo se deteriorava, mas o espírito continuava vivo. Triste paradoxo aquele.  A barriga, bem grande, revelava que o parto estava próximo.
_Jesus  sofreu muito, Angelina, para nos mostrar que nós também vamos conseguir passar pelas piores provações.
_O senhor tem visto as meninas? Na missa, o senhor tem visto? Como elas estão? Cresceram, né?
_As meninas estão ótimas, minha filha. Fique em paz.
_ O que vai ser deste bebê, frei? Não vou poder tocá-lo, não é mesmo? Eles vão levá-lo pro meu marido e nem  vou vê-lo, não é mesmo?
Frei Alfons considerou que não seria apropriado contar àquela alma já tão atormentada que seu marido não iria ficar com o bebê; dizia ter medo que ele contagiasse a todos da casa.  Estava aí um grande problema a ser resolvido:  ninguém da família de Angelina queria aquele bebê, caso ele sobrevivesse - o que seria bem difícil de ocorrer.
_A cada dia, o seu fardo, minha filha. Não sofra mais do que deve. Vamos rezar?
_Não sei se quero rezar para um Deus que me afasta de quem  amo e me deforma mais a cada dia... _ o rosto contorcia-se novamente, numa dor que vinha da alma.
_A amargura não vai curá-la, filha. Só vai fazê-la sofrer mais. Pense nisso.
Aquelas palavras ficaram ecoando em seus próprios ouvidos: como convencer alguém naquele estado a sair da amargura e aceitar seu destino? Pensando nisso, Alfons virou-se para conversar com a outra mulher.

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