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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Nada de novo sob o sol 6


Angelina tinha muito a fazer:  com a desconfiança – quase certeza – de que mais um bebê estava a caminho, precisava preparar o enxoval com capricho. Uma de suas maiores habilidades era bordar em ponto cruz. Quando saía com seus bebês –  Carmem,  com quase três anos, e  Clarinda, com um – todas as pessoas a elogiavam por seu capricho. E, como contava com uma ajudante em casa , tinha bastante tempo para bordar.
Sua vida era boa: embora o marido não fosse de conversar muito, e nem fosse carinhoso com ela e as crianças, não deixava faltar nada em casa. Para ela, era o que bastava. A única coisa que estava tirando seu sossego, ultimamente, eram umas manchas brancas que haviam aparecido em seu corpo. No início, logo que Carmem nasceu, ela notou uma pequena, entre o pescoço e o seio direito. Mas não deu importância. Só que o tempo foi passando e agora eram quatro, em diferentes partes do corpo.  Será que ela estaria com aquela doença que clareia a pele? Como era mesmo o nome? Lembrava-se de um menino que era chamado de Malhado pelas crianças da vizinhança. Vitiligo! Era esse o nome! Um arrepio percorreu seu corpo. Sabia que era bonita. Muito bonita: morena, cabelos longos e fartos, olhos amendoados e um furo no queixo que lhe dava um charme quase irresistível. Talvez por isso tenha se casado cedo: aos 16 anos, já era mãe. Agora, aos 19, poderia ter a mesma doença daquele menino, e talvez o marido não a quisesse mais. Talvez nenhum homem a quisesse mais. Procurou pensar em outra coisa.
O fogão ela mantinha aceso durante a maior parte do dia; sempre precisava  cozinhar ou esquentar algo para as meninas. Além disso, gostava de tomar um cafezinho várias vezes ao dia. Respirou fundo, colocou uma panela com água sobre o fogão e foi ver como estavam as meninas. Ficou olhando de longe - enquanto   a caçula  era ninada por sua ajudante,   Carmem já dormia gostoso. Seus olhos encheram-se de lágrimas por ser capaz de amar tanto. Sentia que morreria se ficasse longe de suas meninas.  Então, lembrou-se da água no fogo e foi passar o café. Enquanto colocava-o na xícara, no entanto, ouviu um choro alto e, na distração, derrubou café no braço, sobre uma das manchas. Estranhou o fato de não sentir dor, mas até achou bom. Foi atender Carmem, que acabava de acordar.

4 comentários:

  1. Agora sim... vou ficar rico! Sem palavras. Vindo de você só mesmo o ótimo.
    Linda história. Linda escrita. Linda mulher!
    Beijos!

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  2. Dri, a cada palavra um elogio! Está de parabéns! E a históriiia que já é fantástica, contada por você, fica ainda mais emocionante! =D

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  3. Vocês não imaginam o quanto me dão forças pra continuar contando essa história que, pra mim, tem um valor inestimável! Obrigada! Ah, e podem criticar à vontade!rs.

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