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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Nada de novo sob o sol 4

Na  casa de Terezinha estavam todos agitados: Manoel já tinha matado duas galinhas e, como sempre, saíra correndo atrás das crianças com a cabeça de uma delas. Manoelzinho corria pelo quintal todo, seguido de Lúcia, que mais ria que corria. Paulo olhava aquilo e se divertia, acostumado que estava com suas limitações físicas. Quando tinha 2 aninhos,  teve uma meningite que quase o levara, e desde então carregava sequelas da doença.  Ele, no entanto, não se importava. A única coisa com a qual não se acostumava era ser chamado de troncho pelos meninos da rua. Mas um dia, um dia ele ainda ia ser doutor, e não ia admitir que ninguém o chamasse daquela forma.
Na cozinha,  Terezinha lavava umas verduras colhidas no quintal. Os móveis da casa toda eram feitos de caixas de verduras que Manoel recolhera em  suas andanças. A miséria era grande, e as dificuldades, muitas.  
Embora se sentisse feliz, de vez em quando Zinha fraquejava: trabalhava como empregada doméstica de segunda a sábado, e no domingo todo o serviço de casa a esperava. A patroa era uma espanhola muito brava, que não pensava duas vezes antes de humilhá-la; o marido, por sua vez, embora fosse um homem bom, gostava de tudo limpo e organizado.  Zinha achava que só iria descansar no dia em que morresse.  Enquanto lavava as verduras, o pensamento voou: imaginou a família chegando de Itu, e teve certeza da primeira coisa que o marido diria: “Bastião e Bastiana, cadê a Bastianinha?”  Sempre brincava com o fato dos cunhados terem o mesmo nome, e chamava Carmo de Bastianinha.
De repente, ouviu uma gritaria das crianças. Os três gritavam ao mesmo tempo: “Eles chegaram, eles chegaram”, numa euforia que fazia gosto.

5 comentários:

  1. Parabéns Drica! Seu texto flui de modo tão gostoso e nos transporta pra esse lugar de pessoas simples e impregnadas da mais genuína alegria.

    Edna T.Cavalcante

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  2. Obrigada, Edna! Fico muito feliz por você estar lendo. A história é baseada em fatos reais, e tem momentos de arrepiar...tomara que eu consiga ser fiel às emoções através das palavras. Beijo grande!

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  3. Vai, Dri... tá ótimo... a gente fica esperando a continuação, cada pincelada forma ainda mais o quadro desse pessoal que pouco a pouco se torna conhecido... muito bom!

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  4. Ai, Fer, que gostoso ouvir isso! Acabo de mudar uma partezinha sobre o Paulo - peço perdão! - porque conversei com uma fonte, que me corrigiu...rs.

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  5. Uauuu... aonde fica essa casa aki em Sorocaba prá eu comprar galinha morta na hora??? kkkk.
    Brincadeiras a parte, muito bom o textoo! =)
    Vc pode depois imprimir tudo e colocar nas prateleiras das livrarias.. =)
    Alê Lopes

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